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domingo, 30 de agosto de 2015

A Idade Moderna e as Grandes Navegações


A expansão marítima européia, processo histórico ocorrido entre os séculos XV e XVII, contribuiu para que a Europa superasse a crise dos séculos XIV e XV. Através das Grandes Navegações há uma expansão das atividades comerciais, contribuindo para o processo de acumulação de capitais na Europa. O contato comercial entre todas as partes do mundo (Europa, Ásia, África e América ) torna possível uma história em escala mundial, favorecendo uma ampliação dos conhecimento geográficos e o contato entre culturas diferentes.

No final da Idade Média, o mundo que os europeus conheciam resumia-se ao Oriente Médio ao norte da África e as Índias. Os exploradores europeus, principalmente portugueses e espanhóis, lançaram-se em direção ao "mar desconhecido", que acreditavam ser habitado por monstros marinhos e onde encontrava-se o abismo infinito onde ninguém jamais voltaria caso caísse nele. Fatores como: posição geográfica favorável, conhecimentos náuticos e criação de um estado nacional precoce, ajudaram Portugal a ser pioneiro nas Grandes Navegações. Somente 100 anos depois da primeira empreitada dos portugueses ao mar é que os espanhóis iriam se aventurar em tamanha "loucura" pra época.



Exatamente como nos dias de hoje, o tipo de valorização de trabalho e o conhecimento variam em função das classes sociais e ligações culturais. O humanista espanhol Luis Vives, por exemplo, valorizava as técnicas e incitava seus próximos a estudarem sobre técnicas agrícolas, de navegação e de máquinas, por exemplo, a fim de saber como estes poderiam ser aplicados a seu favor. Sem dúvida as novas tecnologias foram permitindo que os navegadores da Idade Moderna fossem, cada vez mais, mais longe em suas jornadas. Primeiramente com o uso do astrolábio (objeto de navegação de orientação estelar) e mais tarde, com a invenção da bússola, passaram a ter uma melhor noção de onde estavam em meio ao deserto de água salgada. Além dos mapas e sofisticações navais.


                          O astrolábio é um antigo instrumento astronômico e foi utilizado pelos primeiros grandes navegadores. O primeiro modelo é de aproximadamente 150 a.C., criado provavelmente pelos gregos ou alexandrinos e mais tarde aperfeiçoado pelos árabes

O astrolábio usado pelos navegadores foi desenvolvido a partir desse instrumento primitivo, divulgado na Europa pelos árabes. Foi muito utilizado no séc. XV como instrumento de navegação, principalmente pelos portugueses e espanhóis durante o ciclo das grandes navegações. Era usado para medir a altura do Sol ou de uma estrela durante alguma viagem no meio do oceano, de maneira a se determinar a latitude. Era suficientemente pesado para continuar pendurado na posição vertical apesar do balanço do navio.

Bússola.

Uma bússola é um instrumento navegacional para se encontrarem direções. Ela consiste num ponteiro magnetizado livre para se alinhar de maneira precisa com o campo magnético da Terra. Uma bússola fornece a uma direção de referência conhecida que é de grande ajuda na navegação. Os pontos cardeais são norte, sul, leste e oeste.

 Quadrante

O quadrante astronômico, conhecido desde a Antiguidade, foi o instrumento de alturas mais cedo adaptado à náutica. Tinha como finalidade tomar as alturas dos astros e era geralmente feito de madeira ou latão.

 Balestilha

A balestilha é um instrumento complementar da esfera armilar utilizado para medir a altura em graus que une o horizonte ao astro e dessa forma determinar os azimutes, antes e depois de sua passagem meridiana.

 Sextante


O sextante é um instrumento elaborado para medir a abertura angular da vertical de um astro e o horizonte para fins de posicionamento global navegação estimada.

Instrumentos de navegação



Não foi fácil para os poucos homens que possuíam uma visão globalizada do mundo, isso porque no final da Idade Média a Igreja monopolizava o poder da informação. Com a secularização, os protestantes poderiam ler e interpretar (de mil maneiras diferentes) as coisas por elas mesmas, ou seja, estavam livres do cabresto imposto pelo catolicismo. A geometria e o cálculo foram ganhando espaço devido a sua precisão e indiscutível valor técnico em vários aspectos da vida real como na arte (perspectiva), na medicina (através da astrologia), na cartografia, na navegação, na contabilidade etc.. Os avanços marítimos se deram principalmente com as viagens de descoberta que precisavam cada vez mais de equipamentos mais sofisticados. Um empreendimento de grande porte, por tanto caro no qual os interesses do Estado se juntavam aos dos banqueiros e comerciantes. Além de dividirem os lucros, isso possibilitava inovações tecnológicas que se aplicariam a barcos, mapas, armas entre outros. De acordo com Bernardo Jefferson de Oliveira as navegações não eram apenas símbolos de poder, elas estavam próximas do que os americanos chamam atualmente de "Big Science". Pois em suas vésperas, tais expedições envolviam diretamente e indiretamente milhares de pessoas que ajudavam em suas longas preparações.

 
Descobrimentos, Thomas Kostecki


Diferente da ciência ou da filosofia, seus avanços não tinham um autoria definida, pois rapidamente suas descobertas e inovações eram disseminada, reexperimentadas e reformuladas. Além de terem caráter progressistas. Para Francis Bacon (OLIVEIRA, Bernardo Jefferson de. Francis Bacon e a fundamentação da ciência como tecnologia. Belo Horizonte: Edit. UFMG, 2002.) as naus eram símbolos de poderio militar e tecnológico. Pois um Estado poderia negociar com povos de várias localidade do mundo conhecido até então e assim acumular riquezas.

Rota das grandes navegações nos séculos XV e XVI.

O mapa acima mostra as rotas utilizadas pelos europeus pra chegar as novas terras e também aos velhos povos com quem já tinham contato. A expansão marítima teve um nítido caráter comercial, daí definir este processo como uma empresa comercial de navegação, ou como grandes empreendimentos marítimos. Para o sucesso desta atividade comercial o fator essencial foi a formação do Estado Nacional.



Expansão marítima portuguesa - Portugal foi a primeira nação a realizar a expansão marítima. Além da posição geográfica, de uma situação de paz interna e da presença de uma forte burguesia mercantil; o pioneirismo português é explicado pela sua centralização política que, como vimos, era condição primordial para as Grandes Navegações. A formação do Estado Nacional português está relacionada à Guerra de Reconquista - luta entre cristãos e muçulmanos na península Ibérica. A primeira dinastia portuguesa foi a Dinastia de Borgonha ( a partir de 1143 ) caracterizada pelo processo de expansão territorial interna. Entre os anos de 1383 e 1385 o Reino de Portugal conhece um movimento político denominado Revolução de Avis -movimento que realiza a centralização do poder político: aliança entre a burguesia mercantil lusitana com o mestre da Ordem de Avis, D. João. A Dinastia de Avis é caracterizada pela expansão externa de Portugal: a expansão marítima.

Etapas da expansão - A expansão marítima portuguesa interessava à Monarquia, que buscava seu fortalecimento; à nobreza, interessada em conquista de terras; à Igreja Católica e a possibilidade de cristianizar outros povos e a burguesia mercantil,
desejosa de ampliar seus lucros. A seguir, as principais etapas da expansão de Portugal:

1415 - Tomada de Ceuta, importante entreposto comercial no norte da África;
1420 - Ocupação das ilhas da Madeira e Açores no Atlântico;
1434 - Chegada ao Cabo Bojador; 1445 -chegada ao Cabo Verde;
1487 - Bartolomeu Dias e a transposição do Cabo das Tormentas;
1498 - Vasco da Gama atinge as Índias ( Calicute );
1499 - Viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil.

Expansão marítima espanhola - A Espanha será um Estado Nacional somente em 1469, com o casamento de Isabel de Castela e Fernando de Aragão. Dois importantes reinos cristãos que enfrentaram os mouros na Guerra de Reconquista. No ano de 1492 o último reduto mouro -Granada -foi conquistado pelos cristãos; neste mesmo ano, Cristovão Colombo ofereceu seus serviços aos reis da Espanha. Colombo acreditava que, navegando para oeste, atingiria o Oriente. O navegante recebeu três navios e, sem saber chegou a um novo continente: a América.

A seguir a principais etapas da expansão espanhola:
1492 - Chegada de Colombo a um novo continente, a América;
1504 - Américo Vespúcio afirma que a terra descoberta por Colombo era um novo continente;
1519 a 1522 - Fernão de Magalhães realizou a primeira viagem de circunavegação do globo.

As rivalidades Ibérica - Portugal e Espanha, buscando evitar conflitos sobre os territórios descobertos ou a descobrir, resolveram assinar um acordo -proposto pelo papa Alexandre VI - em 1493: um meridiano passando 100 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, dividindo as terras entre Portugal e Espanha. Portugal não aceitou o acordo e no ano de 1494 foi assinado o Tratado de Tordesilhas. O tratado de Tordesilhas não foi reconhecido pelas demais nações européias.

Navegações Tardias: Inglaterra, França e Holanda.

O atraso na centralização política justifica o atraso destas nações na expansão marítima: A Inglaterra e França envolveram-se na Guerra dos Cem Anos(1337-1453) e, após este longo conflito, a inglaterra passa por uma guerra civil - a Guerra das Duas Rosas ( 1455-1485 ); já a França, no final do conflito com a Inglaterra enfrenta um período de lutas no reinado de Luís XI (1461-1483).

Somente após estes conflitos internos é que ingleses, durante o reinado de Elizabeth I (1558-1603 ); e franceses, durante o reinado de Francisco I iniciaram a expansão marítima. A Holanda tem seu processo de centralização política atrasado por ser um feudo espanhol. Somente com o enfraquecimento da Espanha e com o processo de sua independência é que os holandeses iniciarão a expansão marítima.

 



Consequências: As Grandes navegações contribuíram para uma radical transformação da visão da história da humanidade. Houve uma ampliação do conhecimento humano sobre a geografia da Terra e uma verdadeira Revolução Comercial, a partir da unificação dos mercados europeus, asiáticos, africanos e americanos.

A seguir algumas das principais mudanças: A decadência das cidades italianas; a mudança do eixo econômico do mar Mediterrâneo para o oceano Atlântico; a formação do Sistema Colonial; enorme afluxo de metais para a Europa proveniente da América; o retorno do escravismo em moldes capitalistas; o euro-centrismo, ou a hegemonia européia sobre o mundo; e o processo de acumulação primitiva de capitais resultado na organização da formação social do capitalismo.

 


FONTES:

ARENDT,  Hanna. A condição humana. A alienação do mundo. Ed. Forense Universitária. 4 ed. Rio de Janeiro.1989 (p. 260-302)

OLIVEIRA, Bernardo Jefferson de. Francis Bacon e a fundamentação da ciência como tecnologia. Belo Horizonte: Edit. UM MG,  2002. (p. 85-111)

BURKE, Peter. Cultura popular na Idade Moderna: Europa, 1500-1800. São Paulo: Cia das Letras, 2010. (p. 188-216)

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